terça-feira, 17 de maio de 2016

Critica Princesa Mononoke

Maria Eugania Mendrone -26 anos - Cursa Radio e TV 

A Princesa Mononoke conta a história do amor impossível de San e Ashitaka em sua batalha pela preservação da natureza contra as ações destrutivas do ser humano.
O filme começa com Ashitaka, um jovem príncipe da vila de Emishi, que se vê em luta contra Nago, o deus-javali, cujo corpo fora possuído pelo deus da Maldição, um demônio, que tinha a intenção de destruir a vila. Ashitaka consegue matar o oponente, mas sofre uma maldição: seu braço direito ganha força sobre-humana, ativada pelo sentimento de ódio. Isso pode transformá-lo num demônio, que aos poucos vai consumir sua vida.
Aconselhado pela sábia e pelos anciões da vila, Ashitaka parte em busca da cura de sua maldição. A viagem o leva à Cidade de Ferro, governada por Lady Eboshi, uma mulher que explora intensamente os recursos naturais, detendo o monopólio do minério de ferro. Instigada pelo monge Jiko, enviado do imperador, Lady Eboshi tenta matar Notívago, o Espírito da Floresta, cortando-lhe a cabeça. (O imperador acredita que quem beber o sangue desse espírito terá vida eterna.) Com a morte de Notívago, Lady Eboshi pretende a conquista total da floresta sagrada.
Logo após chegar à cidade, Ashitaka conhece San, a Princesa Mononoke, que, quando criança, fora adotada pela deusa Moro, uma loba gigante. Ashitaka e San apaixonam-se e juntos querem defender e preservar a natureza, proteger os animais e os espíritos que lá habitam.
A Princesa Mononoke é um filme que trata da eterna disputa entre o bem e o mal, no caso, a ação do ser humano de explorar os recursos naturais da floresta de forma gananciosa, prejudicando o ambiente. Mas não há bons ou maus, vencedores ou perdedores nessa história, apenas a luta pela sobrevivência.
Apresentam-se três pontos de vista diferentes: o primeiro deles é o de Ashitaka, que quer fazer o bem, não permitindo que a natureza seja devastada, mas sente ódio pela destruição que o ser humano provoca no ambiente, por lucro e poder. Ocorre que, para evitar que sua maldição se alastre pelo corpo transformando-o num demônio, ele não pode demonstrar esse ódio, ou seja, ele é um herói em constante conflito.
O segundo ponto de vista é o de Lady Eboshi, que, apesar de ser ambiciosa ao querer conquistar a floresta para usufruir de seus recursos, revela um lado afetuoso: cuida de ex-prostitutas, carabineiros e leprosos, dando-lhes abrigo e trabalho[P1] , e estes passam a idolatrá-la como deusa. Ainda assim tenta matar o Espírito da Floresta, como um favor ao imperador (e, claro, em benefício próprio). Ela não é uma vilã, no sentido de maldade, mas uma oponente da natureza, pois somente os animais a veem como inimiga.
O terceiro ponto de vista é o de San, que não se considera humana e escolhe lutar ao lado dos animais que a criaram desde pequena, não perdoando a atitude dos seres humanos. Caracteriza-se então a personagem da heroína forte e valente.
O conflito entre homens e natureza é frequente no filme, mas também se evidencia a tentativa de proteção dos espíritos da floresta, ou seja, a reação da energia vital do planeta ante a destruição causada pela ação humana. A história se passa na era feudal japonesa, cuja cultura se fundamenta principalmente na mitologia e em lendas dos folclores regionais, nas quais ocorre obrigatoriamente a presença de Deus em formas animalescas, demônios, espíritos e entidades fantasmagóricas.
O que mais desperta a atenção é a simbologia:
- os demônios são o resultado da interferência destrutiva do homem na natureza, o sentimento de ódio transmitido por eles é uma metáfora para um mal, uma doença que se instala no corpo do hospedeiro corrompendo-o, consumindo-o aos poucos e, por fim, matando-o.
- os pequenos kodamas são espíritos puros, que, junto como os deuses animais, tentam proteger e preservar a floresta.
- os macacos de pelo negro e olhos vermelhos reivindicam direitos e protestam contra a destruição e a morte, mas nada fazem para melhorar a situação, não buscam amenizar os conflitos, mas promovem a discórdia, pois acreditam que todos são intrusos em seu território e ainda culpam San por não pertencer ao mundo deles. Os macacos representam uma metáfora da atitude comodista dos seres humanos.
- Notívago, o Grande Espírito, é um Deus que se transforma todo dia e toda noite – ele dá a vida e também a tira. O espírito não toma partido na disputa, apenas protege o equilíbrio entre a vida e a morte, mas o que se aponta claramente é que o espírito pode ser corrompido pela ação do homem. Ao ter cortada a cabeça, Notívago se transforma em um Shinigami (Deus da Morte), que, na busca da cabeça decepada, infecta a floresta com o mal, matando-a. (Podemos correlacionar essa situação com o exemplo do princípio de Gaia, que diz que o planeta Terra é um ser vivo, capaz de se sustentar, mas a interferência direta e constante resulta em severas mudanças em seu ambiente.)
A determinação de San e Ashitaka de devolver a cabeça a Notívago faz com que este reviva; assim, aos poucos a floresta se purifica e a natureza se restaura, mostrando que a vida sempre encontra uma forma de se renovar, na presença de um ato real de bondade e amor, sem se levar por cobiça e ganância, mas escolhendo fazer o bem.
Em meio à luta para recuperar a cabeça do Grande Espírito, Ashitaka salva a vida de San. Esse ato de amor, porém, tem um preço: ele carregará para sempre um resquício da maldição em seu corpo. Os dois seguem caminhos diferentes, pois, apesar de se amarem, cada qual tem um destino a cumprir: San deve defender a floresta e Ashitaka deve retornar a sua aldeia para ajudar na reconstrução.
O filme revela excelente fotografia, com traços sutilmente marcados, mas com cores fortes; é perceptível o uso de tonalidades quentes e cores vívidas em cenas de ambientes claros, e foscas em cenas de ambientes escuros. A música contextualiza os sentimentos e a circunstância de cada cena; é possível perceber também que boa parte do filme se concentra em apresentar paisagens do Japão. Músicas e paisagens se fundem com harmonia, fazendo com que o expectador possa imaginar-se em um ambiente sereno. Apesar de o filme contar com muitas cenas de batalha, o teor de violência é moderado, em se tratando de uma animação infantojuvenil.
Além de receber indicação para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, A Princesa Mononoke é o primeiro filme de animação a ganhar o Prêmio da Academia do Japão como Melhor Filme. No contexto narrativo da luta entre a natureza e humanidade a premiação é plenamente justificável, pois o tema desperta o interesse de todos e deve ser melhor discutido e abordado pelo público em geral.

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